domingo, 18 de outubro de 2009

Conceito das Almas

-Não é paranormal, você é excelente em prezumir e adivinhar as ações e pensamentos das pessoas. - foi o que ele disse - Foi com esse dom que te levou até aqui.
Sempre desconfiei de mim mesma de que eu pudesse ler mentes ou prever o futuro. Não é verdade. Eu consigo adivinhar as palavras que saem da boca das pessoas ou o que estão pensando - posso dizer que é óbvio demais deduzir o pensamento deles. Suas mentes são abertas e qualquer atitude revela tudo - um simples olhar então...
-Você acha mesmo?
-Sim. Acontece comigo também, mas nunca vi outra pessoa adivinhar tão certamente quanto você.
Começei a analizar sua expressão. Ele deu um sorriso, ele sabia que eu estava tentando descobrir o que ele estava pensando, por isso ele virou a cara.
-Não finja que não sabe que eu estou tentando adivinhar o que você está pensando - brinquei.
-Não precisa se esforçar. -ele olhou no fundo dos meus olhos - Suposições vêm das observações racionais.
-Por que somos tão iguais?
Ele precisou de tempo pra pensar.
-Não sei. Talvez somos tão compatíveis juntos...Tipo, Almas-gêmeas.
Recuei e corei.
-Não se assuste - ele pegou meu braço e se aproximou - Até faz sentido, se você for pensar nesse lado.
Tive que pensar. Deveria ter algum propósito ele ter dito aquilo. Será que ele estava mesmo a fim de mim? Se esse negócio das adivinhações fosse mesmo paranormal, dava pra entender que somos iguais perante as almas. Ter algumas semelhanças todos têm, mas tão complexo como nós, acho que não. Soou estranho para mim, afinal ninguém acredita mais em Alma-Gêmea - o que me fez pensar se essas pessoas nunca amaram na vida.
Ele sorriu. Meu silêncio denunciou que eu estava pensando nisso.
-Você acredita em reencarnações? - perguntei.
-Acredito. Acredito também na hipótese de que, na vida passada, o amor entre essas almas eram tão forte que permanece fixo na Terra, fazendo com que elas voltem.
-E se elas encarnam novamente em um outro corpo, longe da pessoa amada?
-Talvez, elas nunca se encontram novamente. Raramente irão se encontrar, já que, ao amadurecerem, encontram as pessoas mais proximas e possíveis. Se elas acharem a pessoa certa, será obra do destino. Mas aí leva anos e encarnações e gerações até eles se cruzarem novamente.
Está respondido porque as pessoas não encontram o amor. Elas apenas buscam o possível, florecem esse amor e tentam mantê-lo, maioria das vezes fracassam. Mas penso que não basta ser Alma-gêmea pra dar certo naturalmente. Como qualquer amor, há a conquista, amadurecimento, paixão e harmonia. Não importa quem é, ou como, quando, porquê. Que seja bom enquanto durar, que seja ótimo se durar pra sempre.

-O que estamos levando conosco, vamos levar pro além. Não importa se a morte possa nos separar, não importa o que poderá acontecer. Você têm meu coração, quero ele de volta do outro lado.
-Vou tentar te alcançar para devolver.
-Não. Quero que fique com ele pra se lembrar de mim.
-Não - insisto - Quero ir com você.
Ele segurou meus ombros e olhou fixamente para mim, ele estava preparado pra dar essa mensagem:
-Eu posso ter dito uma vez que é difícil nossas almas se encontrarem de novo, mas pensa bem. Um dia nós nos encontraremos de novo, como nos encontramos nessa vida.
-Vou sentir sua falta - meus olhos estavam transbordando de água - Vou sentir saudades do seu amor - gotas começaram manchar meu rosto.
-Um dia a gente vai se encontrar. Não se esqueça disso.
Por mais que eu queira ele por perto por mais de alguns dias, a vida não me permite.'
-Não durou tanto quanto eu esperava.
-Durou sim! - ele exclamou.
-Mas parece que não aproveitei o suficiente.
-Pense em todos os momentos que passamos juntos, todas as lembranças. Nossa história juntos será inesquecível.
-Não quero viver do passado. Me deixe ir com você! - eu insisti.
Ele me fez uma careta e reprimiu.
-A vida é tão injusta - protestei.
Ele me abraçou fracamente, mas meus braços reforçaram. Ele tossiu por causa da força, me afastei em reação. Ele riu.
-Me desculpe se eu te enganei, me perdoe se eu te magoei. - eu não sabia formular um discurso.
-Não peça desculpas. Eu tenho que te agradecer. Por Tudo! Você fez minha vida fazer sentido, e sem seu amor eu não seria nada.
Não sabia o que dizer, não porque ele me calou, mas não encontrava as últimas palavras para lhe dar. Sabia apenas três:
-Eu Te Amo.
-Eu também te amo.
Esperei ali - no silêncio brando do quarto - contava cada segundo, torci para que não haveria um último; pensei o que aconteceria se chegasse a sua hora, torci para que não chegasse; acariciei seu belo rosto, enxerguei seu antigo rosto jovem apaixonado, seu sorriso, pálido, porém iluminava aquele instante, segurei sua mão o tempo todo. Seu olhar estava fraquejando a cada minuto, mas não tirava os meus dos dele, com medo de perdê-lo em minhas memórias. Torci para que aqueles lindos olhos verdes nunca se fechassem.
Mas eles foram se fechando lentamente, seu coração - já batia fraco - foi se apagando.
E no silêncio, eu mergulhei. As bolhas da mágoa flutuavam na minha frente, fiquei sem oxigênio da esperança. Já não sabia mais qual eram as minhas lágrimas. Meus pensamentos diziam que logo me encontrarei com ele, que nada poderia nos separar, que estava alcançando meu amor.

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